domingo, 31 de agosto de 2008

Ditos à Éolo.

Leve vento,
leva esses lamentos
esses pensamentos
Leva vento, Leve...

Leve vento,
tu que és tão livre
entre o céu e a terra,
aceite o peso dessa reza.

Leve vento, leva
pelos cantos do mundo
as poucas palavras
de um sábio vagabundo.

Leve, vento leva
pois eu sempre enraizado
não darei nenhum passo.
Leve vento maroto...

Leve vento
pois na volta do mundo
eu me reinvento e vôo ao teu lado,
como Ícaro ou como pássaro.

domingo, 24 de agosto de 2008

Deusa errante

Nessas nocivas trilhas
nesses incertos passos.
Nesses tenebrosos vocábulos
raramente digeridos.

Nesse conflito,
escudo e espada mantém-se unidos.
Uma flor, seu espinho
uma pétala à chorar.

Nessas idas e vindas
nesses versos e cifras.
Abaixo do céu
e do chão fica acima.

Nesses montes
nesses lagos.
Nessa pedra
nessa fresta.

Baila mulher!
Me convida pra festa,
me indica aquela
que é nossa reta.

Inúmeros nesses
em que vejo você.
Minha menina dos olhos
Nisso, eu posso crer!

Vai minha Deusa-Íris
acalma essa tormenta.
Junte chuva e sol
e me sorria com esse arco.
Íris...

Amada Íris...
Me carregue sobre os montes
me deite em tuas brumas
só não me perca no horizonte
Óh Íris Deusa errante...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Derradeiro Prelúdio

Aprumado no desnível da minha existência foi que me fiz pensador,
me fazendo pensador me tornei pessoa
me tornando pessoa foi que me vi como bicho...
um bicho chamado ser-humano de codinome André
comandante de suas tropas, que vão da cabeça ao dedão do pé.
Um rabisco mau feito consumido de prazer me deu a vida,
foi a junção de raças que formou minha carapaça.
Essa que carrega minh'alma
que pede descanço, que pede carinho, que também pede vinho!
É esse prazer que comanda o grito impulsionado pelos meus pulmões
cortando minha garganta feito foice no matagal
esse grito que resvala nos dentes e entorta a lingua
é a fala do animal redizendo o que é ou não real...
E eu? Eu sou real, humano-animal
fazendo o que acha certo, enfrentando o que deve
sem levantar bandeiras, apenas entoando canções.
Enfrento Deus e o Diabo, pois é entre o céu e a terra
que sofro e sou feliz...
Lavo as tristezas com as lagrimas que descem feito cachoeira em minha face
e ilumino com meu sorriso, tal a lua sobre a serra, tudo aquilo que me alegra
E nesse frenético-fuso, friso:
-Se perder dentro de si, é o único caminho pra encontrar o que realmente te faz feliz!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Re-Tocando Raul...

Sonho que se sonha só
é só um sonho que se sonha só
mas sonho que se sonha junto é re-a-li-da-de
Sonho que se sonha só
é só um sonho que se sonha só
mas sonho que se vive junto é so-no-ri-da-de...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Infância roubada


Ferro e concreto separam desejo e realidade
a vida acorrentada ao relógio
determina até o horário de ir ao banheiro
em certa hora da noite, só lhe resta o travesseiro.

O sol cortado pelas grades
não ofusca o brilho nos olhos do menino
as mãos seguram com firmeza cada barra
esperando contar as pedras perdidas na calçada

Na rua outros cantam, correm, gritam
e ali, o aliado da tristeza apelas olha.
Imagina que um dia seu mundo será tão grande
quanto à distancia até a esquina.

Vendo os carros passarem
se pergunta por quê foi condenado?
Por quê não nasceu como pássaro?
Por quê? Por quê? Por quê...
Por quê estava ali enjaulado?
Sendo que único mau foi ter nascido urbanizado.

Isso mesmo, enquanto uns batem no peito
com orgulho de serem acinzentados
outros, com olhos lunares se tornam sedentários
engolindo o desejo enigmático de fazer o asfalto
sentir o calor de seus livres pés descalços...