quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dezembro

Depois da tormenta me surge a calmaria
Ainda úmido pelo diluvio de tempos atrás
Sinto borbulhar o calor do sol em minha alma

De tempestade em tempestade
Já não me assusto com tantos raios
Deixo de lado guarda-chuva e morais pobres
Pra poder ser criança pulando de poça em poça

Assim me arrisco em mais um mergulho
Em mais uma dúvida em mais uma dádiva
Em mais um risco em mais um rito

Reinventando Março com sabor de Dezembro
Brinco de ser gota, de ser vento
E talvez encontre a felicidade
Revendo e vivendo minha vida no caleidoscópio do tempo...

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Rito

Ainda lembro do cheiro
que me marcou aquele seu olhar primeiro
Impregnando em mim o gosto do nosso abraço

De corpo arqueado e fadado pelas veredas do tempo
precipitei o abismo de um amor prematuro
E em queda vertiginosa me revi profundo
esguio e de caloroso sorriso
Sem versejar romances que a vida leva
deixei tal felicidade rimar feições

Lembrando de um passado recente
sonhei futuros de alvoradas incandescentes
Sem querer ser poeta ou poema
sem querer ser dito ou dilema

Liberdade!

Na vida, não há mais segredos
Não há mais ansceios
Em teus quintais ei de cirandar alegrias

Então que venha o tempo
com seus traiçoeiros acasos
pois eu estarei aqui
emoldurando você em minhas retinas

Vestido do seu bom dia
serei ponte segura
para os nossos que estão por vir....

domingo, 23 de maio de 2010

... ?

imagine o prazer em tornar arte os pecados da vida real
imagine o prazer em tornar musica os prazeres da vida real
imagine o prazer em tornar arte os perigos da vida real
imagine o prazer em tornar poemas os pecados da vida real
imagine o prazer imaginando pecados pra vive-los na vida real

De Cadência

Talvez porque tanto fui o chato
que a perturbava com o amor que pra ti não existia
que hoje te observo como quem vê os operários de Tarsila
Não há mais identificação além do silencio de quem não se conhece

Depois de tanto passar apressado pelo tempo
pelas periferias do ser feliz
decidi me ver interior

Depois de tanto viver perdendo o fôlego
resolvi respirar...

Cair no samba e cantar....

Tristeza, por favor vá embora
Minha alma que chora está vendo o meu fim

terça-feira, 30 de março de 2010

Velharia em boca adolescente

Sabe aquele sonho antigo?
De calça jeans anos 80?
É, aquele de felicidade simples
de violão nas costas e sorriso maroto
Sim, esse mesmo
Lembra?
Dos fogões
Das mochilas de acampamento
Esse mesmo
Legionário urbano
Engenheiro Havaiano
É meu amigo
Aquele das promessas de muro do quintal
Dos versos do banco da Combi
Lembra aquele de All Star surrado
Camisa de banda cinza, manja?
Pois é meu velho
Ele está de volta
Apareceu em 2010
Sem temer seus 20 e poucos anos
Adulto sem perceber
E adolescente por querer
De bigodinho de pó de café
De passos lentos
Cabeça anuviada
Cumprindo a promessa de pra sempre amigos
Sendo a alegria dos dias de mar
É, mandou abraços
Disse que já é tempo de criar
Pediu pra afinar a viola
Separar folha e papel
Pois felicidade antiga
Deve ser lembrada e também vivida.
Ah! mandou avisar que
Belchior errou
Pois nossa esperança de jovens
ainda há de acontecer...

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Dona Naninha e o Beija-flor

Dona Naninha acordou mais cedo que o dia, abriu suas janelas e portas e pôde perceber que assim como no mundo lá fora em seu peito a noite ainda reinava. Aqueceu o café e sentou-se próximo à porta da cozinha, seu lugar de preferência desde menina. Solitária, a velha fazia aquele rito todas as manhãs, mas naquele momento algo lhe passou zunindo nos ouvidos, dando asas pras lembranças que chegavam com o caminhar do vento primeiro de cada amanhecer. Sua memória acordara brilhosa, tal qual os raios do sol que vinham matar a saudade daqueles que temem a escuridão da noite. Dona Naninha fechou os olhos e sorriu, como se mergulhasse dentro de si. No espaço tempo foi até sua mocidade, seus vestidos rendados, seus laços coloridos, seus seios fartos de vida, de alegria, seus quadris sempre desejados pelos rapazes da vizinhança. Era moça de sorriso infantil, de formosura madura e efervescente molejo. Amava a vida e suas descobertas, jamais deixara suas tristezas emudecerem seu coração. Viajou anos pela memória e novamente pintou aquele sorriso, mas agora no rosto da amarga velha que tornou-se. Abriu os olhos buscando seu tempo real e observou o zunido novamente, mas agora fantasiado de beija-flor em sua janela. Observou a beleza do pássaro que rasga o ar com suas asas e faz parar o tempo em seu voar. Não conteve a precipitação de uma lágrima, havia enchido seu peito com amor aos detalhes, aos olhares singelos que a vida pincela em torno de cada um, coisa que há muito havia se esquecido. Por que esquecera? Dizia a Velha, que recortou os bordados de amor da sua memória, pois Deus havia lhe tomado a linha e agulha que lhe permitiam a renda criar. Dona Naninha ainda de casamento prematuro, perdeu seu amado, não para a morte, mas para a vida de uma outra família. Ofertada a solidão fez-se então concubina do silencio e dos jantares de um prato só. Manteve por décadas o lado direito da cama arrumado, as fotos foram se amarelando na cabeceira, no passo em que sua vida amarelava-se também. Tornou amarga suas palavras e coração, nunca mais deitou em outras camas, nunca mais abraçou novos abraços. Naninha decidiu ser porto de duas opções, a morte, ou seu amado. E assim foi, sua juventude deu lugar as rugas, seu sonhos partiram sem volta, seus sorrisos banguelos ficaram, a voz doce que cantava delírios e fazia ninar o pranto dos vizinhos nunca mais foi ouvida. Fechou-se para o mundo, assim como o mundo fechara-se para ela. Mas naquela manhã, logo naquela manhã como tantas outras que ela havia passado, algo mudara. Observava o pássaro a medida que suas lágrimas agora despencavam, a miudeza de corpo o esplendor que ele trazia em cada beijo dado nas tulipas, nas azaleias, nas rosas, nos lírios. Trazia junto com o voar a elegância de quem compartilha amores, por saber da dependência de um dia retornar e beijá-las novamente. Voava delicadamente de flor em flor cortejava um novo rasante. Naninha já em delírio observava tudo aquilo, seu peito ia se enchendo, seu arrependimento também. Percebeu que mesmo voando só, era possível para a ave se alimentar, viver, redescobrir sabores. Percebeu que assim como o beija-flor o vento também voa solitário, e nunca deixa de brincar com vestidos, cabelos, ou de guiar nuvens para onde a terra pede água. Percebeu que mesmo sua solidão sendo milenar nunca estavam estes só. Seu peito foi se enchendo de pranto em misto de tranquilidade e alegria. Percebeu sua injustiça com Deus, percebeu seu erro com ela mesma. Havia passado a vida só e amargurando-se por ter batido asas apenas uma vez. Naquele momento o sol já fazia sua vida presente em todos os cantos da casa, da rua, do quintal. Caiu o copo da mão de Naninha enquanto seu corpo repousava-se bruscamente na velha cadeira. O coração já no compasso das asas da ave, parecia querer partir-lhe o peito, foi então que Naninha abandonou tudo aquilo, criou asas novamente, decidiu que ainda era tempo de voar, decidiu que seria morada de amor eterno as aves de bico agulhado, voou junto daquele seu segundo amor e nunca mais foi vista.
Alguns dizem que Naninha nunca existiu, mas verdade é que desde então toda vez nasce um botão de rosa, toda vez que um novo coração bate, Naninha está lá regando mel nos lábios, sendo mãe de relacionamentos, sendo crença pra todo homem ou mulher que no mundo se perde. Passou-se muito tempo desde que Naninha partiu com o beija-flor, muitas pessoas se esqueceram dela, outras do seu nome, ainda criam muitas lendas sobre, em todo vilarejo ou cidade, em toda esquina ouve-se falar de Dona Naninha, que com o passar do tempo, pros homens de passado ainda curto ou aqueles de vivência amadurecida e cansada tornou-se a ser conhecida apenas como Esperança. Sua história foi esquecida até mesmo da sua memória, mas a verdade é que Dona Naninha ou Esperança nunca mais deixou de voar, nunca mais viveu sozinha.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Meus carmas, sua cama, minhas quimeras....

Queria saber das minhas quimeras
que desnudas inundam meu peito vazio
São lembraças pisadas com cuidado
um caminho de amores e memórias
Karmas e armas me matando ao poucos
em suas camas, em saudade dos seus lençóis
um tiro, um sorriso, uns milimetros a mais distante
Queria saber dessas quimeras
talvez um pouco mais e entender a mim
Se me acham alvo de ser achado fácil
ou se há chão onde possamos pisar partilhas
Queria saber acima de tudo
se sou cria ou criador dessas meninas
se sou criatura de perda constante
náu derivando
folha ao gosto do vento
e se são elas portos navegantes
ancoras
velas
caçadoras...
Cada vez mais distantes
cada vez mais flutuantes
cada vez mais amantes
cada vez mais assassinas
e eu
cada vez mais afogado
no fel
no meu amargo querer vivência
no meu infinito de desculpas
por vive-las demasiado
apenas em memória...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A Encantar-me-nina.

Mesmo que desvendasse seus olhares
Mesmo se escrevesse em receita seus sabores
Mesmo se teu cheiro fragmentasse em meus pulmões
e tua voz tornasse partitura em meus ouvidos
ainda assim não explicaria o que sinto

Mesmo que me forjasse novo homem em barro puro
Mesmo se fossem meus sentidos norte e sul sem ti
Mesmo se me calasse a garganta um grito sem vogais
e buscasse fecundar novas palavras
ainda assim não conseguiria dizer o sinto

Mesmo que apenas na memória se realize nossos encontros
Mesmo se essa querencia só se findar em sonhos
Mesmo se sonhar acordado ao teu lado
e acordar só em agonia
ainda assim dormiria novamente em teus braços

Mesmo que meu labor seja prosa pra tarde vazia
Mesmo se minhas letras forem desencontradas e sozinhas
Mesmo se for lira minha saltando das retinas
e em tua pele ungindo poesias
ainda assim não definiria tua beleza de menina

Mesmo sem, com ou nem
Mesmo ali, lá ou cá
Mesmo sendo alma em fogo solar
e pele queimando em desejo de tocar
ainda assim não saberia ao fogo negar

Mesmo que apenas o "se" exista
Mesmo que tudo passe e amanheça um novo dia
Mesmo assim terei a certeza da entrega, da compartilha
e em meu peito viverá desejos, saudades e alegrias
sempre assim a encantar me nina.