sábado, 18 de outubro de 2008

Perdeu, perdeu, perdeu...

Quarta-feira cerca de 00:35 Hrs,a noite de primavera estava sendo aquecida pelo típico calor de verão. A cidade que raramente dorme fazia júz a esse comentário, menos no bairro onde moro. Piraporinha, zona sul de São Paulo. O silencio gritante daquela noite era de uma calmaria tão grande quanto assustador. A rua que normalmente serve de ligação entre duas enormes avenidas estava quase que desabitada, alguns cachorros latindo, apenas algumas motos ou carros passando em grandes intervalos de tempo.
Estava eu sentado em minha cama tomando um suco afim de me refrescar e quem sabe conseguir finalmente dormir. Mesmo não estando acostumado me sentia bem com aquela moribunda noite, conseguia até sorrir aliviado. Achei que o movimento do tráfico estava suspenso, que finalmente as pessoas compreenderam a necessidade que os outros tinham em dormir de madrugada, ainda mais se tratando de uma madrugada "útil" assim como os "dias úteis" que as pessoas se acabam de tanto trabalhar. Estava tudo muito bem, já começava a bocechar, minhas pernas já se esticavam, o corpo ficando leve, a mente já trabalhando em menor velocidade, os olhos pesando o ouvido muito mais aguçado. E foi justamente nesse momento que meus ouvidos me disseram: "Ledo engano o seu, há vivos na rua e eles não precisam dormir agora". Foi numa mistura de vozes e passos que eles descobriram isso, comecei a me atentar à situação, afinal, o mundo parecia ter se calado. Vozes que eu não conseguia identificar, muito menos entender o que diziam iam se alterando conforme os passos se aceleravam. A calmaria da noite tivéra sido interrompida, comecei a me preocupar e agora já não havia mais maracujá que me fizesse dormir. Fui até o quintal tentar entender melhor o que era dito, com muito medo abri a porta, ainda não sabia se os "trabalhadores" da biqueira que tem do outro lado estavam envolvidos e se aquilo não era um possível acerto de contas. Desci cada degrau da escadinha que vai até a garagem segurando na parede ao mesmo tempo que meus ombros a alisavam. Fui passo-a-passo me aproximando do portão, a exaltação da rua já invadia o meu controle emocional, um frio na barriga veio refrescar o calor que me castigava. O portão com suas grades foi ficando cada vez mais próximo, ergui um olhar sobre a muretinha que divide a garagem do quintal, me aproximei do carro e foi quando ouvi um enorme estrondo no portão da vizinha "Pláuu". Me abaixei por tráz do carro já sem saber o que fazer ou pra onde ir, pensei em voltar pro meu quarto quando ouvi o segundo estrondo, agora mais forte ainda. O zum-zum-zum resumiu-se à uma única voz que dizia num tom extremamente agressivo: "Perdeu, perdeu, perdeu...". Comecei a me apavorar, mas a curiosidade em saber o que estava acontecendo era bem maior, comecei a me rastejar na lateral do carro como se fosse Stallone num dos filmes do Rambo. Pronto, consegui chegar a trincheira, olhei feito águia o que acontecia, mas a noite estava escura, os postes com as lâmpadas queimadas não me ajudavam a ver com nitidez o que acontecia. As vozes ficaram mais próximas e foi quando vi dois garotos sem camisa, um deles portava algo nas mãos que não identifiquei, estavam totalmente fora de si, pulando, girando e gritando: "Ai fí cêis já era! Perdeu, perdeu mano". Me apavorei, mas percebi que o garoto portava algo redondo e talvez pesado, pois ele segurava com as duas mãos e com um enorme cuidado. Comecei a ficar com mais medo ainda, minha mente despejou uma enorme quantidade de informações sobre o que seria o tal objeto, mas parou, parou quando pensei em uma bomba. Percebi que meu medo já estava fora de controle, porque, onde já se viu alguém segurar uma bomba redonda a não ser num dos desenhos do pica-pau? Mas o que era aquele objeto? do que se tratava? A curiosidade aumentava, fui até as grades e quando toquei em uma delas o susto foi maior ainda. Um grito partiu de um dos garotos e foi quando percebi que aquilo era um confronto: "Vai mano, já era jão 2 x 0... saí fora que vai entra o próximo! Perdeu, perdeu, perdeu"... Era tudo um confronto entre garotos, era apenas futebol de rua!

5 comentários:

Violeta T. disse...

Muuuito bom!
Cara, gosto muito do que você escreve, fazia um tempinho que não passava por aqui...
Parabéns, querido !

Beijo grande ^^

Anônimo disse...

Peças que a mente prega, a curiosidade humana hein! credito que a mesma que vc teve foi a de quem começou a ler. Mas esperamos o pior? meus céus esperamos o pior sim, coisa de louco hein!

Unknown disse...

Nossa, eu tbm esperava o pior no final da história, que horror! rs
Gostei da crônica.
Bjs

Karina Mendes disse...

ahaha muito bom! Criou o maior suspense, deixou o leitor agoniado e fechou com chave de ouro!
beijo moço

André disse...

Valeu Monica, apareça sempre e sinta-se a vontade pra comentar.

Sim Joy! pra vc ver como o mundo anda, pensamos assim por instinto, mas como esse estinto foi "lapdado"? uma destruição social seria a responsavel? foda neh!

Calma Maria Helena, ainda prefiro escrever as coisas boas da vida! rsrs

Valeu Mutante! apareça mais vezes, é sempre muito bem vinda!


Bjos à todas!