domingo, 27 de abril de 2008

de filho pra pai

Existem pessoas que ao partirem
deixam gravadas em nossas retinas
imagens de uma vida tão breve quanto um suspiro
Partem sem avisar, sem pensar
não nos permitem uma despedida ensenar

De todos esses aventureiros
que partem pra uma próxima cruzada
sempre há um em especial
aquele que retem o abraço fundamental

Não tive muitas oportunidades de te falar
nunca o conheci completamente
não pude com conciência lhe amar

De uma hora pra outra acordei
e não havia mais o fusca amarelo
as idas ao sitio, os passeios de barco
não havia mais as costa de onde
brotavam inúmeros cravos

Corri o quintal procurando
vestígios da sua oficina,
do seu modo de vida
da figura paterna que eu conhecia

Durante os anos seguintes
procurava algo que lembrasse você
segui seus passos até onde pude
em busca da sua essência, transfigurei meu ser

Mas nada, não havia mais sua mão
a me erguer quando eu caia!

Hoje folheio livros que sua mente
já tivéra absorvido
imagino se é com a mesma destreza e emoção
Guardo a imagem de um sorriso amarelo
escondido em meio à fios avermelhados
O canto do olhar, já envelhecido
pelos sofridos dias vividos

E é com essa dor que peço lincença
pra não te ter mais como guia
regitro nessas fiéis linhas
lavadas com lágrimas realmente sofridas
meu desejo de não ser sua imagem cuspida no espelho
pois tal pai, como tal filho
sabem bem como escolher seu caminho

E se hoje, entre brumas
puder ler este texto
saiba que deixei de ser herdeiro
pra construir meu próprio reino.


para Antônio José Pereira, onde estiver...

Um comentário:

Camila e Leandro disse...

Poesia essência da vida...
Sentimentos, emoções demonstradas por meio há tantas e belas palavras, algumas assimétricas outras não, algumas com ritmo, versos e som, com redondilhas maior ou menor.
Em cada ser existe um poeta que expressa a poesia do cotidiano, e talvez de um passado profano. Dentre todas as poesias lidas, estudadas e analisadas, está é a mais bela, singela e concreta que eu já li.